sexta-feira, 13 de julho de 2012

Maratona do Rio de Janeiro

(O texto a seguir é extenso. Aqui vai um resumo, caso você não queira ler tudo: cheguei ao Rio de Janeiro sexta à tarde/noite. Passeei o sábado todo, das 9 às 18 horas, conhecendo alguns pontos turísticos do Rio.Ccaminhei muito, chegou a doer a sola do pé. Ideal para quem ia correr uma maratona no dia seguinte. Acordei bem cedo no domingo e fui para a largada. Fui bem até o km 26. Do km 27 ao 31 passei os piores momentos, quando me deparei com a pior subida do percurso. Depois, consegui correr em um ritmo bom, alternando com alguns momentos de caminhada para tomar água. Terminei a maratona em 4:16:13 no tempo oficial. Fiquei bastante satisfeito. Fim de resumo. O texto completo está logo abaixo.)

Decidi que 2012 seria o ano das maratonas. Ou da maratona, desde que fosse bem feita. A primeira, demorando quase 5 horas, sem treinar tanto, ainda me incomodava. Eu precisava correr uma maratona mais dignamente e terminar bem. Melhorar o tempo era consequência e quase uma certeza, já que fazer de novo aquele tempo era muito improvável. Já no fim de 2011 escolhi a Maratona do Rio de Janeiro. As inscrições abriram e logo me inscrevi. Janeiro mal tinha começado e eu já sabia que 8 de julho seria o dia da minha segunda maratona. Só tinha que treinar e treinar.

Janeiro começou devagar, algumas dores apareceram, parecia que não ia dar certo. Fevereiro não foi tão bom, mas a partir de março tudo começou a melhorar. Evolução nítida. Acho que o sofrimento dos dois primeiros meses foi necessário para o treinamento deslanchar. Ou não. Talvez eu tenha feito alguma coisa errada e só fui consertar no terceiro mês do ano. Não sei. O importante é que deu certo. Por linhas meio tortas, mas deu. Incluí na preparação 3 meias maratonas. Em cada uma delas fiz meu recorde pessoal. Além disso, comecei a correr com pace abaixo de 5:00 min/km.

Essa mudança de ritmo nas provas se deu no fim de abril. Um presente de aniversário atrasado, possivelmente. Desde esse momento até a Maratona do Rio, só duas meias e a maratona tiveram pace acime de 5 minutos. Bati meus recordes em todas as distâncias possíveis em que houve corrida. 5, 10, 12, 7, 8, 9, tudo, cada corrida era um recorde novo e a sensação de que estava no caminho certo. Não parecia a preparação ideal, mas estava funcionando. Foram 19 corridas no ano até chegar na Maratona do Rio. E vários treinos longos. Muito mais do que eu havia feito em 2011 antes da Maratona de SC.

O dia se aproximava cada vez mais. Sexta-feira chegou, faltavam dois dias. Viajei para o Rio. De avião. Com conexão, que rima com promoção. Cheguei no Rio. Sexta foi de pizza e descanso. Sábado, um passeio durante todo o dia, andando muito. A sola do pé doeu e a tira do chinelo fez machucados nos meus dois pés. Era uma situação bem interessante para quem correria 42 km no dia seguinte. Dizem que você deve descansar no dia anterior à prova e se alimentar bem. Meio sem querer querendo, fiz o oposto.

Domingo, acordo às 4 da manhã. Alimentação é feita no quarto mesmo, com a comida comprada no dia anterior no mercado. Descendo, descobri que tinha café antes das 6 da manhã, diferentemente do que o cara da recepção havia me informado. Poderia ter comido mais tranquilo e melhor. Saímos, eu o Marcelo, 5 horas rumo ao ônibus da organização que nos levaria para a largada. Conhecedores das distâncias da cidade (não), estávamos na dúvida se iríamos a pé ou de táxi até os ônibus.

Não conseguimos nenhum táxi e fomos a pé mesmo. Nem demorou tanto. 20 minutos ou perto disso. Entramos no ônibus. Depois de pouco mais de 1h30', chegamos no local da largada. Tinha bastante trânsito e o relógio marcava 7:15 quando desembarcamos. Só deu tempo de enfrentar a fila do banheiro. A largada se aproximava. Acredito que alguns corredores chegaram já com alguns minutos de prova. A anunciada e esperada chuva veio no domingo, para meu alívio.

Era uma chuva fina, que ia e voltava. Havia ainda um pouco de vento. Nesses momentos de vento e chuva, lembrei de alguns treinos em Floripa. O bom mesmo é que o sol não apareceu. Penso que seria impossível ter um rendimento razoável se no domingo a temperatura fosse igual sábado. Mesmo com os termômetros marcando entre 17 e 20º C, não sentia frio. No Rio de Janeiro, o frio quase não existe. Foi dada a largada e a chuva estava bem fraca. Saímos na direção oposta do percurso para fazer 1,5 km antes de retornar e seguir rumo ao Aterro do Flamengo.

O problema é que essa chuva inconstante gerou poças ao longo de boa parte do percurso. Pode chamar de frescura, mas não ia molhar o tênis logo no primeiro quilômetro da corrida. Ainda teria mais 41 e vai correr de tênis molhado para ver que agradável. Meu objetivo não era ganhar a prova, era só terminar bem, não tinha motivos para correr feito um louco e passar em todas as poças de água do caminho. Muita gente não se importava com a água. Nem com os outros em volta. Fui desviando e tentando não atrapalhar quem vinha atrás.

Como foi anunciado neste blog, corri com os alertas do Garmin desligados. Saí em um ritmo que não sabia qual era e continuei correndo sem informação. A única noção do tempo que eu tinha no começo era do relógio que a organização da prova disponibilizava a cada 5 km. Olhei o relógio da prova o tempo do meu Garmin e calculei meio por cima e dava uns 2 minutos de diferença. A parte boa de correr sem os alertas é que eu olhava aleatoriamente para o relógio e não tinha muita noção do tempo que eu iria fazer. Não estava a fim de fazer contas no meio da maratona.

Comecei a prova muito bem, com o ritmo variando entre 5:30 e 5:51 até o 22º km. A única exceção foi um 5:57 no 10º km, quando tive que ir no mato esvaziar a bexiga. Voltei muito mais leve e perdi, no máximo, 30 segundos, acho que nem isso. No 23º km, passei pelo primeiro túnel e o Garmin ficou doido. Perdeu o sinal do satélite. Achei o túnel meio abafado e até senti que diminuí o ritmo, mas não a ponto de marcar 8:19. Lembro muito bem que tentei acompanhar um corredora e consegui. Esses 8:19 são muito mentirosos. Enfim, pouco importa para o tempo final.

Eu nunca tinha ido ao Rio de Janeiro, não conhecia nada da cidade e do percurso. Sabia de duas pequenas subidas pelas informações do site da prova. Não sei se vocês conhecem (deveriam), mas saibam que a parte entre a largada, no Recreio dos Bandeirantes, e onde começa a meia, na Barra da Tijuca, é a mais monótona da maratona. Parece que a gente tá sempre correndo no mesmo lugar. Não muda. É muito bonito, sem dúvida, mas até chegar no primeiro túnel, que nos levaria até São Conrado, demora.

Tentei manter o ritmo como estava, só na sensação de esforço, mas só consegui fazer isso até o km 26. A partir do km 27 começava a subida da Niemeyer e eu senti o cansaço. Talvez tenha sido um erro, mas me peguei olhando para o Garmin várias vezes e via que o ritmo de momento oscilava entre 6:30 e 7:00. Desanimou. Foi um erro, certamente, mas na hora não deu para evitar. A paisagem era bonita, mas fiquei tentado a olhar para o relógio e não resisti. O ritmo caiu, mas continuei correndo. Lerdo, devagar, mas sem parar.

A certeza já não é tanta, mas acho que foi pelo km 29 que eu vi o posto de distribuição de Gatorade e não hesitei: peguei dois saquinhos e comecei a caminhar, pela primeira vez na corrida, até tomar ambos. O mais legal é que o pace não passou de 7 minutos. Quando decidi correr de novo, veio a descida que havia de ter depois de subir. É muito pior descer do que subir, ainda mais depois de 29 km. Quando estava entrando no Leblon, passei pela placa dos 30 km, mas o relógio da organização estava fora do ar, talvez por causa da chuva.

Precisei olhar para o Garmin para conferir como estava o tempo depois daquela subida e aqueles paces na estratosfera. Deu pouco mais de 3 horas e o sub 4 horas já era bem impossível, mas fazer sub 4h12' era viável, mas precisaria manter o ritmo, o que já não era tão fácil. Entrei no Leblon e veio um vento contra, daqueles de fazer lembrar a Beira Mar nos piores dias. Um pouco à frente, mais por desencargo psicológico, aproveitei um banheiro químico e esvaziei a bexiga nem tão cheia pela segunda vez. Fato é que fiquei mais leve para correr os últimos 11 km.

Os quilômetros 32 a 34 foram acima de 6, mas no momento da prova parecia bem mais alto. Passei por Leblon e cheguei ao fim de Ipanema. 34 km tinham ficado para trás. Faltavam apenas 8 km. Quase nada. Quase muito. Começou a chover de novo e eu olhei para o Garmin, vi aquele pace acima de 6 minutos e me indignei com a minha lerdeza. Não podia estar tão devagar assim. Treinei pra terminar bem e não sofrer. Agora faltava muito pouco. Decidi acelerar mais e buscar os paces abaixo de 6 minutos, para me sentir bem comigo.

Claro que depois de 34 km, você faz o maior esforço do mundo, acha que está a 5:20 e está a 5:40, mas o que importa é que fiz 5:40 (35º km), 5:44 (36º km) e 5:40 (37º km). Esqueci de mencionar que lá no km 35, entrada de Copacabana, havia bergamotas (mexiricas) e bananas à disposição. Nada peguei, já que não consigo comer enquanto corro, mas achei legal essa iniciativa. Voltando ao final, no km 38 apareceu um posto de água e, satisfeito com os 3 quilômetros anteriores, peguei dois copinhos e andei até fazer uso deles.

No km 39, voltei a acelerar. Um corredor desconhecido me viu e disse "vamos Loucos por Corridas, falta pouco. Começasse a correr agora? Nem tá suado.". Só consegui dizer "vamos". Ele ainda completou "vamos, me puxa, vamos". Extenuado e cansado, tentei. Fiz o km 39 na companhia desse corredor em 5:38, mas olhei o pace e estava a 5:15/5:20 em alguns instantes. Era insano demais depois de tantos quilômetros. Ele não me deixava desacelerar e eu já não queria aguentar mais aquele ritmo. Estava torcendo por um posto de água.

Não foi um posto de água. Foi um de Gatorade, mas servia igual. Aproveitei que ele incentivava todo mundo e deu atenção a outros corredores, fui para o lado, peguei dois saquinhos e andei até tomar o isotônico. Era o último descanso. Vocês podem pensar que essas duas paradas para caminhar no fim foram de preguiça e tal. Pode até ser. Não nego que dava um refresco, mas meus dedos do pé esquerdo estavam doendo muito. Eles nem se flexionavam mais. Essas caminhadas aliviavam a dor e me fazia correr melhor por mais alguns minutos.

A dor diminuía e eu contivuava. Decidi, no entanto, não parar mais a partir daquela parada no km 40. E assim fiz. Acelerando de novo, 5:57 no 41º km e 5:36 no 42º km. Os dedos até começaram a incomodar, mas ali eles já não iam mais me atrapalhar a ponto de andar. É aquela coisa: no final da prova, as dores vão sumindo. Depois da linha de chegada elas voltam duas vezes mais forte, mas não tem problema. Ver a placa de 41 e 42 km me animou muito. Os últimos metros pelo Aterro do Flamengo foram só de felicidade.

O número de pessoas em volta aumentava a cada metro percorrido. Começava a ver as tendas das dezenas de assessorias. Mais um pouco e via as grades que levavam até a chegada. Nesses metros finais nem me importei com nada. Tentei fazer meu único pace abaixo de 5 minutos na prova. Foram poucos metros, mas corri a 4:52 e cheguei bem e inteiro, na medida do possível. Parei o Garmin e estava lá: 4:16:21. Era o tempo que eu queria? Não. Eu estava preocupado com isso? Nem um pouco. Foi a prova que deu para fazer, sem muitas pretensões, em um local totalmente novo.

Mais tarde, descobri que o tempo líquido da prova foi de 4:16:13 e o bruto de 4:19:01. A classifição até saiu, mas devido à chuva parece que alguns chips tiveram problemas e ainda não sei direito como fiquei. Na verdade, pouco importa. É meramente estatístico. O que importa mesmo é que eu completei minha segunda maratona. Melhorei o tempo em 38 minutos, embora a primeira maratona tenha sido de supetão e meio sem preparo (não recomendo). Esse de agora fui mais preparado, mas ainda dava para ter feito mais treinos.

No fim de tudo, os treinos que foram realizados serviram para que eu chegasse ao fim da maratona só com as dores normais da prova. Nada além. O problema maior do pós-prova foi que as pernas assaram (acho que por causa da chuva e do shorts molhado). Fora isso, só dores na coxa, que começaram de forma mais intensa na segunda e só foram completamente embora na quinta. Ainda tenho o objetivo de fazer uma maratona sub 4 horas, mas já aprendi que nem sempre vai dar certo. É um pouco mais complicado do que 21 km. Um dia vai sair.

Por enquanto, me contento em completar bem a prova. Vamos ver se em Blumenau, dia 12 de agosto, o tempo melhora. Admiro esse pessoal que consegue correr abaixo de 4 horas. Fazer 3h30' ou menos, é um negócio muito impensável. Imagina correr 42 km com pace de 5:00 min/km? Consigo esse pace em uma meia maratona, com bastante esforço. Esse foi o relato mais longo de todos os tempos. Se você chegou até aqui, muito obrigado. Haja paciência, vontade e tempo para ler tantos parágrafos. Voltaremos.

6 comentários:

  1. Grande Enio....muito legal o relato!!!
    Evitar as poças dágua no inicio da corrida na minha opinião é uma estrtégia muito inteligente....vou anotar e adotar!!!
    A camisa dos Loucos é uma bandeira reconhecida no mundo inteiro, recomendo usar toda vez que for correr, vais receber incentivo na certa, até em NY foi assim.
    Mesmo caminhando e parando pra tirar água do joelho duas vezes baixasse 38 minutos, isso é muito treino guri.
    Acho que o Sub-4h está por vir, é uma questão de acertar o dia, aquela junção de fatores que faz o dia ser perfeito sabe? Por exemplo descansando no dia anteiror é um bom começo...heheheheh

    Parabéns por mais essa Maratona....

    Abração
    Guilherme

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  2. Que legal!!! Parabéns!! Um dia eu tb quero fazer uma maratona :)

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  3. Show Enio, li teu relato todo, fica o registro. És um campeão, não sou muito chegado à "algemas de performance" estamos juntos na próxima, vamos ver o que vai dar.
    Abraço - Renato.

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  4. Beleza de prova e de relato. Pude até me imaginar na maratona também. Você está de parabéns pelo grande feito. Sua evolução está sendo bem rápida e a prova disso foi a grande melhora no seu tempo. Daqui a pouco vai ser difícil te acompanhar. Ah, também consegui chegar até o final do relato !!! Valeu e vamos juntos para a próxima: Blumenau !!! Abraço.

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  5. Parabéns pela prova e pelo relato, Enio. Obrigado pela mensagem no meu Arquivo de Corridas. Sucesso no "Projeto Blumenau". Gostei de saber da volta dela. Esse ano, pra mim, não vai dar, mas espero poder corrê-la nos próximos. Abraço!

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  6. Ólá Enio!Estava dando uma olhada no seu blog e não podia deixar de escrever que gostei muito do seu relato sobre a Maratona do Rio. Foi uma bela prova.
    Parabéns!!

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Ler também é um exercício. Exercício lembra corrida e já escrevi demais aqui. Fui correr!

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